sexta-feira, março 17, 2006

O Desejo...


Despontava uma terça-feira turva, senti novamente a efeverscente paixão que me consumia já há alguns dias,não tinha coragem para ir dormir sozinho, porque a sentia ao pé de mim, sem eu querer ela espreitava o meu coração....

Fui comer, comer de uma forma desmedida, pois foi sempre o meu único modo de chorar, de lutar contra a minha falta de fado! Espreitava pela janela para matar a minha curiosidade, em busca de alguém, de algo, quando subitamente...caío num sono impiedoso!

Acordo, mais parecia terem-me entregue um corpo diferente após o sono, metade do meu crâneo tinha sido despedaçado pelo contínuo desespero em que navegava, queria ter uns tomates de touro para lhe poder dizer tudo o que me ia na alma, mas não conseguia...

Senti-me então, como que aprisionado num calabouço, condenado à solidão eterna...

Não quero envelhecer, quero continuar a sentir o cheiro da minha nova ansiedade, do meu novo desejo!

Saío à rua para a encontrar de novo, ainda ofuscado pela claridade, pouco lúcido viajo ao sabor do vento, porque sei que me indicaria o caminho...vislumbro o seu andar ao longe, era ela, a indecisão tornou-me invisível, suspendo a respiração por breves segundos, vou ao seu encontro, desde o primeiro momento percebi que não fazia a menor ideia do que lhe dizia, perdia o meu domínio bruscamente...

Tinha a face encharcada, mas como se não chovia(?), tinha-me entregue as suas lágrimas, contemplei-a um pouco mais...julgo ouvir palavras da sua boca
afirmando:

"Já não estou assustada, não tenho medo, mas vais perceber porque fujo, é que sabes...não quero flores no meu enterro..."

quarta-feira, março 08, 2006

5 Sentidos


Sonhei que uma mulher entrava no quarto com uma menina nos braços, e que esta mastigava sem respirar e os grãos de milho meio mastigados caíam no seu soutien.

De repente, senti os dedos ansiosos que me desapertavam os botões da camisa, e senti o cheiro perigoso do animal de amor deitado atrás de mim, e senti que me afundava nas delícias areias movediças da sua ternura.

Mas parou de chofre, tossiu de muito longe e safou-se da minha vida.

- Não posso - disse ela -, tu cheiras a ele.